segunda-feira, 16 de abril de 2012

A Vez da Voz


Inúmeras vezes me deparei sobre o real valor da nossa voz. E, confesso, que este questionamento ainda é o que impulsiona a minha vida. A voz abrange uma série de signos nas quais, muitas vezes, nem nos damos conta: o timbre, a cor, a textura, a potência, a presença, a ausência e muitos outros.

E é sobre este assunto que quero desenvolver neste dia: 16 de abril - O Dia Mundial da Voz.

Não há como falar do corpo humano sem mencionar sua fisiologia. Entendamos o nosso aparelho fonatório (de um modo geral, simples e breve) como a união de órgãos, músculos e ossos. O ar parte dos pulmões, brônquios, traqueia e laringe (onde é produzido o som), passando pelos articuladores: língua, palato mole e duro, lábios, dentes e mandíbula, e é amplificado pelas caixas de ressonância superior e inferior. Tudo isso num trabalho de inspiração e expiração, no qual o diafragma é o principal responsável. Sem dúvida, se tratando de saúde, qualquer elemento que a afete, consequentemente trará maus resultados à voz.

Se nosso instrumento é nossa voz, nosso corpo, quer dizer que ele está completamente vinculado a todas as alterações que pode sofrer. Não há como fragmentar ou separar.  Ele é reflexo de um conjunto de informações sobre o que somos, acreditamos, acumulamos, sentimos e etc. Com isso é imprescindível que tenhamos ouvido atento ao que nos quer dizer.

“(...) Como uma mão invisível, a voz parte do nosso corpo e age, e todo o nosso corpo vive e participa dessa ação. O corpo é a parte visível da voz (...). A voz é o corpo invisível que opera no espaço. Não existem dualidades, subdivisões: voz e corpo. Existem apenas ações e reações que envolvem o nosso organismo em sua totalidade.” – Eugênio Barba

Assim, poderíamos começar a falar sobre a nossa educação vocal familiar, na qual descobrimos nossos primeiros sons e palavras. Porém, nesta fase, aprendemos muito mais que palavras. São pelas imitações que continuamos nosso aprendizado, através do tipo de voz que nos é apresentado, e é por essas imitações que vamos desenvolver a nossa qualidade vocal. Inconscientemente repetimos o que ouvimos em nosso ambiente cultural e familiar, isso é o que vai determinar como será a nossa voz, ou seja, que vai definir se ela vai ser natural, estridente, abafada, com muito ar, forte ou fraca. Claro que todos estes tipos de vozes exercem uma função de autoexpressão e este é outro ponto a ser abordado.

A expressão vocal surge por inúmeros motivos, mas podemos simplificar em dois tópicos: pessoal e social.  Nos dois sentidos a voz vem dizer coisas sobre amor, união ou separação, paz ou revolta. E isso pode ser muito natural ou conflitante, de boa ou má qualidade, bem ou mau falada. A nossa voz pode ser interpretada erroneamente, pode ser sentida com tranquilidade, pode estar em estresse, pode ser rejeitada ou ansiada. Independente da reação do receptor dessa nossa voz, é ela quem vai nos dizer o nosso real lugar.

Expressões como, por exemplo: “Ela é a voz daquela família”, “Devemos ouvir a voz do povo”, “Deixe que a voz de Deus te diga”, “Ele não tem voz naquela família”, entre tantas outras, só nos mostram o quanto “ter voz” é um sentido muito mais amplo e arraigado à nossa personalidade do que podemos imaginar. Falar bem, se calar, ter frases desconexas ou ásperas e ser claro são formas de ter voz que mostram verdadeiramente como somos e estamos dentro de um processo de comunicação.

“A palavra tem o poder de transformação, possibilita uma série de mudanças na vida da própria pessoa e daqueles que estão à sua volta. Por outro lado, a palavra pode tornar-se um meio de destruição, tanto de quem fala quanto de quem ouve. À vezes, uma palavra é suficiente para enaltecer ou arrasar a pessoa.” - Valcapelli e Gaspareto

Assim, podemos perceber a grande importância da nossa voz em nosso dia a dia, seja profissional ou pessoal. Vemos também o valor das palavras dentro deste contexto e, principalmente, as ações e reações que elas exercem dentro e fora do nosso corpo. Cuidemos da nossa voz interior para que ela seja sempre presente, clara e saudável.





Bibliografia:

- Barba, E. Além das Ilhas Flutuantes. Trad. Luis Otávio Burnier. São Paulo/Campinas: Hucitec/Editora Unicamp, 1991, p.56.
- Extraído de: Gayotto, Lúcia Helena. Voz, partitura da ação/Lucia Helena Gayotto. –São Paulo: Summus, 1997, p. 25.
- Marsola, Mônica. Canto: uma expressão: princípios básicos de técnica vocal/ Mônica Marsola, Tutti Baê. Sâo Paulo: Irmãos Vitale.
- Gasparetto, Luiz/Valcapelli. Metafísica da Saúde – Vol. 1 – Sistemas Respiratório e Digestivo– Valcapelli & Gasparetto – 2000, Editora Vida e Consciência.